segunda-feira, 7 de julho de 2008

Combates do Futuro



Vivemos na sociedade do "mal-estar geral" mesmo para aqueles cujos proventos económicos fariam supor o gozo de uma boa vida. Este mal-estar assenta fundamentalmente na indefinição de cada um perante o futuro colectivo e a adopção clara de um projecto próprio de vida. As respostas políticas de outrora que eram, na sua essência, lineares, quando os campos ideológicos estavam bem definidos, foram substituídas agora apenas por hesitações e perplexidades ou mesmo por novas perguntas paralisantes; falta-nos as "formulas" mágicas que nos ajudaram a tudo compreender e a tudo poder decidir em consciência. É neste contexto que os campos da direita e da esquerda, às vezes, se misturam e todos nós, independentemente do trajecto politico percorrido, nos sentimos confusos perante as novas problemáticas que a rápida globalização do planeta acabou por trazer ao plano politico, económico e social. O embaraço agudiza-se quando nos confrontamos com os jovens de hoje e não lhes sabemos dar as respostas e o testemunho de que tanto necessitam para se tornarem cidadãos intervenientes. A nossa impreparação em muitas áreas novas e os nossos velhos preconceitos ideológicos impossibilitam, tantas vezes, o diálogo aberto e impedem o conselho sábio que tínhamos obrigação de lhes formular. Questões como : a "pulsão" para a violência nas escolas e nas ruas; a necessidade de evasão pelo consumo crescente e diversificado das drogas; o abandono escolar por falta de perspectivas de futuro; o desinteresse pela leitura e pelas áreas culturais ; a aversão crescente às questões politicas; o consumo "esquizofrénico" dos telemóveis; as horas intermináveis na "Net" em "chats" de conversas fúteis e mesquinhas; o novo conservadorismo nas atitudes e comportamentos quer em relação à raça, quer ao estatuto económico e mesmo na vida amorosa - são por nós, com eles, afloradas superficialmente com chavões gastos e estereotipados, sem um mínimo de acutilância e capacidade verdadeira de discussão. Longe vão os tempos em que a fronteira da economia e da organização politica, por um lado, e dos valores morais e espirituais, por outro, estavam bem levantadas e eram intransponíveis entre a direita e a esquerda tradicionais!...Por outro lado, num pais de matriz fortemente católica, como o nosso, a incompreensão da hierarquia clerical por alguns movimentos sociais de vanguarda e a indiferença dos sectores intelectuais pelo esforço meritório de muitos homens e mulheres da Igreja só vem agravar a situação e gerar um clima permanente de mal-entendidos e desconfianças; daqui poder perguntar-se também o que distingue hoje verdadeiramente um católico de direita de outro de esquerda. Será que a resposta linear de que o primeiro procura mudar apenas os seus padrões de vida e o outro o mundo que o rodeia se pode ainda aplicar? Será, por exemplo, que ainda é justo dizer-se que um católico praticante que é contra a despenalização total do aborto é automaticamente reaccionário? Será que a fasquia alta em relação a alguns valores espirituais não é compatível com a luta pela abolição das desigualdades sociais? Ficamos muitas vezes com a sensação de que é preciso, em muitos domínios, dar respostas de esquerda às bandeiras da direita até porque esta já pegou nalgumas historicamente de esquerda para lhes dar, também, a sua resposta e com grande adesão popular como se vê por esta Europa fora.Todos nós, conscientes deste impasse e de mal com a nossa consciência social, teremos que ser, neste novo contexto político e sócio-económico,"Homens de fronteira" sob pena denos fecharmos sobrea nossa desilusãoe perdermos todo o poder de intervenção sobre a sociedade que nos rodeia. Saber ouvir, sobretudo os jovens, e delinear, em parcerias várias, sem exclusões de qualquer tipo, as novas estratégias de intervenção local enacionalnuma perspectiva progressista e sempre inovadora, eis o desafio que nos espera a todos. Assim se congreguem mais forças, desde já, para iniciar este enorme combate do futuro!...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sophia

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.